quinta-feira, 9 de junho de 2011

Preparem-se!!!

domingo, 5 de junho de 2011

Eu complemento ou eu adjunto?




Eu complemento ou eu adjunto?

Sempre me perguntam qual a diferença do adjunto adnominal – AADN – e do complemento nominal – CN. Coisinha complicada de entender, não é mesmo? Alguns ensinam por morfologia – dizendo que basta saber se o substantivo é abstrato ou concreto para diferenciá-los. Bom, não sei meus colegas, mas ‘odeio do fundo do meu ódio’ – expressão que li uma vez e me marcou, como será um ódio desses? – gramáticas prontas com fórmulas mais do que passadas.

Se pegarmos a gramática do renomado mestre Evanildo Bechara, encontraremos exemplos e explicações que até mesmo a ele confundem. Conversava com o professor Marcos Pacco na semana passada sobre isso. Exemplos prontos, fórmulas mágicas para desviar o estudante da linha textual ocorrem muito nas gramáticas. Longe de dizer que o mestre tenha errado, mas o assunto é mesmo espinhoso. Antes que digam que não sou ninguém para criticar, ou mesmo uma ‘besta redonda’, pois não sou quadrado, vamos às elucidações.

Parte chata I: a teoria! Precisamos saber que CN é sempre preposicionado e um termo obrigatório depois de solicitado por um substantivo, adjetivo ou advérbio. Seu caráter é de ser paciente da ação do nome (substantivo em derivação regressiva/deverbal). Por quê? O CN funciona como um objeto do nome – objeto nominal –, como isso não existe (ainda!), chamamos de CN.

A necessidade DE SUCESSO é enorme.
Temos a certeza DA APROVAÇÃO.
Foi adiada a votação DA MP.
A invenção DO TELEFONE mudou o mundo.
Os juros correm paralelamente AO CÂMBIO.
Todos LHE serão úteis.

Nesses exemplos, os substantivos ‘necessidade’, ‘certeza’, ‘votação’ e ‘invenção’ dão ideia de ação e pedem complementos. Nesses casos, os complementos foram pacientes: ‘necessitamos de sucesso’; ‘temos certeza da aprovação’; a MP foi votada’; ‘o telefone foi inventado’. Nas duas últimas orações, as expressões em maiúsculas se unem a termo adverbial na penúltima, e a termo adjetivo na última. Ligados a ADV ou a ADJ, sempre teremos um CN.

Parte chata II: mais teoria! Já o AADN é um termo que necessita do substantivo para existir. Sendo assim, o artigo, o pronome, o numeral e o adjetivo, quando ligados a um substantivo, revelam-se como AADN. Somam-se a isso as locuções adjetivas – aí mora o perigo! – que, por terem valor de adjetivo, também possuem a função de AADN – e preposição, para confundir-se com o CN. Neste caso, têm a função de sujeito da ação do nome, quando ligadas a um substantivo com ação.

A invenção DO SÁBIO mudou o mundo.
Foi adiada a votação DO CONGRESSO.
A prova DE PORTUGUÊS será fácil.
AS MINHAS PRIMEIRAS e LINDAS éguas DE CORRIDA morreram.

Nas duas primeiras orações, os complementos dos substantivos que indicam ação – ‘invenção’, ‘votação’ – são agentes dessa ação, portanto AADN. Nas duas últimas, o elemento preposicionado se une a substantivo sem ação, portanto é um valor ADJ, então AADN.

Que tal irmos à parte boa, então? 

Resumindo: 

1.    1. quando se tem uma expressão ligada a um ADJ ou ADV, função de CN, sem titubear.

2.    2. quando se tem expressão ligada a substantivo sem ação, função de AADN, sem pestanejar.

3.    3. quando se tem expressão ligada a um substantivo com ação, cuidado!, ela pode fazer o papel de agente ou de paciente dessa ação. Se agente, AADN; se paciente, CN.

Que tal agora um desafio para a semana que vem eu postar o resultado? Pois bem:

A plantação DE MILHO será prejudicada.
A plantação DO MILHO será prejudicada.
A plantação DE MILHO será queimada.
A plantação DO MILHO será queimada.

Como se diz em latim: Alea jacta est! Semana que vem a resposta.

Boa sorte e boa semana a todos.
Prof. Diego Amorim

Depois chamo de circo e ninguém gosta.


Alienação total

                        “Meu Deus do Céu!”, pensei, quando ouvi, na rádio, que havia um livro de português, para alfabetização, quatro mil escolas, 480 mil alunos, que trazia como corretas frases como “Nós pesca o peixe.”

                        Senti-me como o ‘desrespeitável público’ de um espetáculo de horror regido por um ministério incompetente, de avaliadores mal preparados, de professores desinformados e alienados. Como um livro com tais exemplos pode ser avaliado, aprovado, distribuído e utilizado em sala de aula sem que ninguém nessa cadeia tenha tido o senso de, no mínimo, queimá-lo?

                        Nosso Circo da Língua hoje apresenta (sons de tambores e cornetas!): variação linguística e suas implicações sociais! Estrelando mais uma vez a Concordância Verbal – hoje acompanhada do Bom Senso, da Norma Culta e da Linguagem Adequada! Respeitável público, com vocês, as provas de concursos do CESPE.

(Agente da Polícia Federal – DPF/CESPE, item 12) Em textos de normatização mais rígida do que o texto jornalístico, como os textos de documentos oficiais, a contração de preposição com artigo, com em “da igualdade” (l.16), deve ser desfeita, devendo-se escrever de a igualdade, para que o sujeito da oração seja claramente identificado.

(l.16) O tema da igualdade atravessou, com maior ou menor força, as chamadas sociedades ocidentais.

(Agente da Polícia Federal – DPF/CESPE, item 21) A fragmentação sintática de ideias coordenadas, decorrente do emprego do ponto-final antes de “Sobretudo” (l.2), de “Ou” (l.6), que é admitida em textos jornalísticos, deve ser evitada, para facilitar a objetividade e a clareza, na redação de documentos oficiais.

(l.1-7) O uso do espaço público nas grandes cidades é um desafio. Sobretudo porque algumas regras básicas de boa convivência não são respeitadas. Por exemplo, tentar sair de um vagão do metrô com a multidão do lado de fora querendo entrar a qualquer preço, sem esperar e dar passagem aos demais usuários. Ou andar por ruas sujas de lixo, com fezes de cachorro e cheiro de urina.

                        Chama-se variação linguística a possibilidade de adequação da língua, seja falada ou escrita, à situação vivida. Adaptar a linguagem ao momento é uma capacidade de comunicadores de excelência. Falar para o público específico. Isso é o importante. Imagine um surfista boa-vida, de terno, em uma entrevista de emprego, em uma empresa de grande porte, dizendo E aí, Brow, tem trampo aí pra mim!? Dessa maneira não arrumaria o emprego. Da mesma forma, sua linguagem não se adequaria se chegasse à praia, com a prancha e de calção, e dissesse Um bom-dia, procedamos às ondulações marítimas neste momento. Não se encaixa, não combina.

                        O português para a vida – e aí se incluem o dia a dia, vestibular, concurso, currículo etc. – exige o cumprimento de normas-padrão, que regulamentam o uso e padronizam a linguagem dita culta. Essa norma não só existe, como é cobrada em várias fases de nossa vida. Seu aprendizado se dá a partir da alfabetização e é contínuo para a vida toda.

                        O fato de existirem pessoas que falam Nós pesca o peixe não corrobora tal linguagem como aceita, como uma variação da norma. Claro que a comunicação se deu perfeitamente quando do uso da frase, porém não só a comunicação completa importa no ato da fala ou da escrita. Importa o fato de como se dá essa comunicação, o quão está adequada à situação comunicativa.
                                                                                                        
                        Ensinar a variação linguística em nada tem a ver com o ensinar que esteja correto um erro crasso de concordância da natureza da frase no livro do MEC. Esse tipo de ensino – se é que se pode chamar isso de ensino – faz com que o aluno internalize o erro como certo e não consiga diferenciá-lo mais tarde quando, mesmo que inconscientemente, precisar utilizar tal conhecimento numa entrevista ou num concurso, por exemplo.

                        Não sou a favor da norma ‘apenas e pronto’ e tudo o que estiver fora dela se considere erro. Sou a favor do ensino direcionado. Ou seja, enquanto se estiver na alfabetização, deve-se aprender a correção gramatical presente na norma e suas variações como forma de confronto com essa norma culta. Mas, depois disso, dependendo do que se pretende com o aprendizado da língua, deve-se voltar o ensino para aquele tipo de linguagem cobrada.

                        Nas duas questões da prova da Polícia Federal supracitadas, pode-se perceber que houve a citação de dois tipos de linguagem – a tal da variação linguística. Linguagem jornalística e linguagem de textos oficiais. Perceba que se citou normatização mais rígida. Isso se cobra em concursos ou vestibulares – que será o destino dos mais de quatrocentos mil alunos que hoje aprendem com o livro ‘nós pesca’.

                        Minha esposa criticou meu texto porque coloquei a língua portuguesa no ambiente de circo. Agora acho que ela entendeu o motivo. Mais do que isso, olha só a importância da língua para ela, que sem perceber se chateou ao ver que poderia ter tratado a língua de maneira pejorativa. Sei que vocês a valorizam. Os concursos públicos e vestibulares também. Que tal sermos os domadores das feras que querem atacar a língua dessa maneira?

Prof. Diego Amorim