domingo, 5 de junho de 2011

Eu complemento ou eu adjunto?




Eu complemento ou eu adjunto?

Sempre me perguntam qual a diferença do adjunto adnominal – AADN – e do complemento nominal – CN. Coisinha complicada de entender, não é mesmo? Alguns ensinam por morfologia – dizendo que basta saber se o substantivo é abstrato ou concreto para diferenciá-los. Bom, não sei meus colegas, mas ‘odeio do fundo do meu ódio’ – expressão que li uma vez e me marcou, como será um ódio desses? – gramáticas prontas com fórmulas mais do que passadas.

Se pegarmos a gramática do renomado mestre Evanildo Bechara, encontraremos exemplos e explicações que até mesmo a ele confundem. Conversava com o professor Marcos Pacco na semana passada sobre isso. Exemplos prontos, fórmulas mágicas para desviar o estudante da linha textual ocorrem muito nas gramáticas. Longe de dizer que o mestre tenha errado, mas o assunto é mesmo espinhoso. Antes que digam que não sou ninguém para criticar, ou mesmo uma ‘besta redonda’, pois não sou quadrado, vamos às elucidações.

Parte chata I: a teoria! Precisamos saber que CN é sempre preposicionado e um termo obrigatório depois de solicitado por um substantivo, adjetivo ou advérbio. Seu caráter é de ser paciente da ação do nome (substantivo em derivação regressiva/deverbal). Por quê? O CN funciona como um objeto do nome – objeto nominal –, como isso não existe (ainda!), chamamos de CN.

A necessidade DE SUCESSO é enorme.
Temos a certeza DA APROVAÇÃO.
Foi adiada a votação DA MP.
A invenção DO TELEFONE mudou o mundo.
Os juros correm paralelamente AO CÂMBIO.
Todos LHE serão úteis.

Nesses exemplos, os substantivos ‘necessidade’, ‘certeza’, ‘votação’ e ‘invenção’ dão ideia de ação e pedem complementos. Nesses casos, os complementos foram pacientes: ‘necessitamos de sucesso’; ‘temos certeza da aprovação’; a MP foi votada’; ‘o telefone foi inventado’. Nas duas últimas orações, as expressões em maiúsculas se unem a termo adverbial na penúltima, e a termo adjetivo na última. Ligados a ADV ou a ADJ, sempre teremos um CN.

Parte chata II: mais teoria! Já o AADN é um termo que necessita do substantivo para existir. Sendo assim, o artigo, o pronome, o numeral e o adjetivo, quando ligados a um substantivo, revelam-se como AADN. Somam-se a isso as locuções adjetivas – aí mora o perigo! – que, por terem valor de adjetivo, também possuem a função de AADN – e preposição, para confundir-se com o CN. Neste caso, têm a função de sujeito da ação do nome, quando ligadas a um substantivo com ação.

A invenção DO SÁBIO mudou o mundo.
Foi adiada a votação DO CONGRESSO.
A prova DE PORTUGUÊS será fácil.
AS MINHAS PRIMEIRAS e LINDAS éguas DE CORRIDA morreram.

Nas duas primeiras orações, os complementos dos substantivos que indicam ação – ‘invenção’, ‘votação’ – são agentes dessa ação, portanto AADN. Nas duas últimas, o elemento preposicionado se une a substantivo sem ação, portanto é um valor ADJ, então AADN.

Que tal irmos à parte boa, então? 

Resumindo: 

1.    1. quando se tem uma expressão ligada a um ADJ ou ADV, função de CN, sem titubear.

2.    2. quando se tem expressão ligada a substantivo sem ação, função de AADN, sem pestanejar.

3.    3. quando se tem expressão ligada a um substantivo com ação, cuidado!, ela pode fazer o papel de agente ou de paciente dessa ação. Se agente, AADN; se paciente, CN.

Que tal agora um desafio para a semana que vem eu postar o resultado? Pois bem:

A plantação DE MILHO será prejudicada.
A plantação DO MILHO será prejudicada.
A plantação DE MILHO será queimada.
A plantação DO MILHO será queimada.

Como se diz em latim: Alea jacta est! Semana que vem a resposta.

Boa sorte e boa semana a todos.
Prof. Diego Amorim

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