ESCRITOR



SER GORDO!

                   Nada melhor do que ser gordo! Ser gordo é uma condição especial: come-se o que quiser; na quantidade que se deseja; na hora em que dá vontade. Sem peso algum na consciência – mas de sobra no resto do corpo –, sem preocupações com estética, roupas, etiqueta, os gordos vivem a mil por hora. Todo gordinho vive apressado, correndo, suando; acaba por esbarrar em tudo, volta e meia algo cai no chão, ele esbarra em você. Gordo em ônibus é um tomento para os passageiros e para ele também. Quando ele entra, a primeira tormenta é a roleta: verdadeiro martírio, rolo compressor – uma espécie de mamografia forçada em toda a região abdominal; a segunda fase da tortura é psíquica, pois, quando o gordo entra no ônibus, todos o olham como uma possibilidade de aperto, seja sentado – aperto duradouro – seja em pé – aperto rápido. Se tocar o celular do esférico passageiro, então, é um deus-nos-acuda. Descer do ônibus lotado é o derradeiro desafio diário do gordo que anda de coletivo, se ele está longe da porta de saída – e a parada perto – com certeza, formar-se-á um maremoto de gente sendo levada.
                   Todo gordo que se preze come muita carne, odeia salada, abomina sopa, canja, ou qualquer comida que lembre dieta, hospital ou mesmo ralidão. Carne e massas são seu principal regime. Entrar numa churrascaria é um dos maiores prazeres que há para os gordos: deliciar-se com aquela fartura de pratos, com o sortido das carnes, que vêm a todo segundo, uma atrás da outra – nenhum espeto é recusado, claro! Imagine alcatra mal passada, pernil, picanha com alho e gordura, coração, faisão, camarão, costela, costelinha, filé, lombo, pão com alho, arroz carreteiro, lingüiça, maminha, fraldinha, cupim, kani – frango... nem pensar, só louco sai de casa para encher o bucho com frango, comidinha mais rala! Saímos de lá redondo, redondo e sentamos em um sofá para saborear um bom cubano, acompanhado de um conhaque, maravilha gastronômica! Massas, massas e mais massas... quanta volúpia ao se comer lazanha, pizzas, nhoque, espaguete, talharini, rondele, canelone, pene, com os molhos os mais variados como sugo, quatro queijos, bolonhesa, branco –  oh fome monstro!
                    Para escolher a casa onde vai morar é um outro martírio. Achar um apartamento em que o banheiro sirva para o gordo sem que seus cotovelos toquem o azulejo na hora do banho, sem que sua bunda se esfrie na cerâmica gelada do banheiro, sem que o boxe o esprema na suas horas íntimas. Sem contar com as doenças que podem ser mais agressivas quando se é gordo, sem contar também com o eterno mal estar que se tem quando está muito calor, um suadouro vivo e ambulante! Roupas a escolher em lojas especializadas, ou quando se está entre o gordo demais e o gordo médio, piora. Vai-se comprar roupa e não há, quando há é pequena, mas se leva por não ficar sem.
                   Sem contar tudo isso! E contando o que há de bom! – só para não usar do jargão ‘colocando tudo na balança’ já que gordo que se valoriza não pensa em balança... – colocando-se tudo nos conformes, tudo em pratos limpos – limpos depois de umas belas refeições neles – ser gordo é uma delícia incomparável, só sendo para saber. Portanto, aproveitem e tentem neste verão ser gordinhos por um dia. Tentem curtir a vida adoidado, num carpe diem maravilhoso e verão como é bom ser gordo. As mulheres? Elas vêm  se você tiver um bom papo, e isso só se consegue engodando também a mente e alma.

Maximmus Incommodus.