domingo, 23 de janeiro de 2011

NÓS DA LÍNGUA


Convivemos com muitas palavras diferentes todos os dias. Seja quando lemos, seja quando conversamos, sempre estamos à mercê de encontros indesejáveis ou mesmo embaraçosos com vocábulos esquisitos. Ir ao dicionário quando surge uma dúvida nem pensar! Geralmente o contexto resolve mesmo. Porém, essa não-ida ao pai dos inteligentes – pois só quem o consulta é deveras sábio – pode custar caro. Para quem estuda para concursos, então, pode custar uma carreira. Entender o significado de algumas palavras é primordial para o sucesso, porque sem elas, às vezes, não se sabe sequer o que o comando da questão pede, por exemplo.
Vejamos alguns léxicos problemáticos na hora de se fazer uma prova:

1.      Elemento Dêitico – dêixis significa contexto. Toda vez em que se necessita de um conjunto de palavras ou expressões (expressões dêiticas) que têm como função ‘apontar’ para o contexto situacional. Deste modo, essas palavras ou expressões, ao serem utilizadas num discurso, adquirem um novo significado, uma vez que o seu referente depende do contexto do interlocutor. Portanto, quando se precisa da bagagem cultural do leitor para que se compreenda além do texto. Vamos ao exemplo: em “Minha terra tem palmeiras/Onde canta o sabiá/As aves que aqui gorjeiam/Não gorjeiam como lá.” (Canção do Exílio, de Gonçalves Dias) aqui e lá não dependem do leitor para que se entenda o texto em si, porém, para que se possam precisar os lugares a que se referem os advérbios, há de se ter um conhecimento prévio da situação do texto, seu contexto, sua história. Temos aí, nesses advérbios, elementos dêiticos.

Como estamos tratando de interpretação de texto nesta coluna, não poderíamos deixar de mencionar a diferença entre inferir e afirmar.

2.      Inferir – significa supor, deduzir a partir do texto. Não podemos considerar que não dependemos do texto para inferirmos algo, pois ele é nosso ponto de partida para interpretação. Pensa-se em inferência como uma situação de independência do texto, porém se precisa dele assim como na afirmação. Em um texto cobrado em prova de concurso, banca CESPE, contou-se a seguinte história: “Um homem da cidade, executivo, apostador, dirigiu-se a um sítio perto da cidade para participar de uma rinha de galo. Chegando lá, procurou um lugar para se encostar e perguntou para um matuto: – Qual é o galo bom? O branco ou o vermelho? E o matuto respondeu: – O galo bom é o branco. O homem da cidade apostou tudo no galo branco. Quando a luta começou, o galo branco só apanhava. O homem desesperado procurou o matuto: – Você não disse que o galo bom é o branco?, perguntou. – O galo bom é o branco, mas o vermelho é ruim que faz dó.” A prova perguntava se acaso se podia inferir do texto que o matuto queria enganar o homem da cidade. Outra pergunta, logo após, versava sobre o fato de poder afirmar que o matuto tinha intenção de enganar o homem da cidade. Sabemos que se pode inferir a intenção do matuto pela situação exposta no contexto, mas afirmar tal intenção já não se pode.
3.      Afirmar – significa confirmar no e com o texto. Precisa-se do texto, literalmente, para que se afirme algo sobre ele. Exemplo, em “Quando você foi embora, fez-se noite em meu viver”, não posso afirmar que o motivo de se fazer noite no viver dele seja o fato de você haver ido embora. Isso podemos inferir, mas não afirmar. Afirmar somente que no momento em que você foi embora, fez-se noite seu viver. Portanto, se está escrito, mesmo que com outras palavras, poderemos afirmar algo, mas para inferir necessitaremos de algo a mais, o contexto.
4.      em princípio, a princípio – a grande maioria dos falantes não distingue uma expressão da outra. No entanto, em princípio significa em tese, teoricamente, enquanto a princípio é sinônimo de inicialmente, no começo, no princípio, exemplos: Em princípio, todo homem é igual perante a lei. O contrato deverá, em princípio, ser renovado no ano que vem. Em princípio, eu não irei à festa. Se eu mudar de idéia, telefono. 2. A princípio, eles acharam a proposta ridícula. Depois terminaram aceitando. A princípio, tudo eram trevas.
Sobre relações morfossintáticas, recurso estilístico-sintático de referência por elipse e outras frases maravilhosas que costumam passear pelos comandos provas de concursos, trataremos na próxima edição. Preparem-se que vem mais expressões esquisitas. Estudem. Esmerem-se. Passem.

Um comentário:

  1. nos mostra a diferença entre dedução e indução querido professor obrigado

    ResponderExcluir